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Boss AC é um dos melhores rappers portugueses desde que a cena portuguesa ganhou corpo nos anos 90. Como qualquer (bom) artista que não faz dos seus horizontes redomas herméticas e ignorantes, tem sido criticado pelos puristas pela sua suposta
comercialização. Nem vou discutir isto, tal é a ignorância que revela. É uma paranóia próxima do patológico... Enfim, basta dizer que AC esteve no primeiro disco de sempre de rap em português (o lendário
Rapública de 94 com dois grandes beats -
A Verdade e
Generate Power) e que desde então fez 3 dos melhores cds da cena hip hop portuguesa. Com inteligência, talento e atitude muito própria.
Se
Manda Chuva (1998) e
Rimar contra a Maré (2002) foram discos naturalmente mais camuflados (ou
underground, como se preferir), pela falta de atenção mediática ao próprio hip hop que começava a despontar em Portugal, já
Ritmo, Amor e Palavras (2005) concentrou em si muitos holofotes. E aplausos. Ora é aqui que alguns rappers parece que se beliscam. Como me chateia que o quintal do vizinho seja um pouco mais bem-tratado que o meu, toca a começar com a intriguice desonesta e gratuita.
Recordo que
Ritmo, Amor e Palavras tem beats monstruosos, como é o caso de
Yo (Não brinques com esta merda) com o Pos dos De La Soul (!),
Só Preciso de 5 minutos,
Faz o Favor de Entrar (com Sam the Kid),
Que Deus (beat samplado dos Madredeus),
Só vês o que queres ver (com os Da Weasel) ou
Quem sente sente. É um disco muito forte e com letras interessantes e bem-dispostas.
É evidente que AC tem coisas menos bem conseguidas. Qual é o artista que não tem? De certo que gravar um clip da pobreza musical e intelectual como aquele que gravou com o pindérico de um Akon não joga a seu favor. Ou passar um som seu numa série de adolescentes pouco inteligentes (para ser meiguinho) também não será muito abonatório. Mas que levante a mão o primeiro músico que só tem boas músicas porque eu quero conhece-lo...
Isto tudo a propósito do seu novo disco que aí vem e da
excelente entrevista dada ao
ipsílon, onde fala do hip hop, do sucesso, das críticas, do ecletismo da sua música (especialmente o fado e música cabo-verdiana), etc. A não perder,
aqui.