sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Rocky Marsiano


Estive para fazer uma apreciação pessoal deste espantoso talento. Todavia, quando me abeirei do seu MySpace, achei que o que lá estava escrito condensava as minhas ideias.

O jazz é, por eleição, o território do improviso e da jam session, das pulsões do momento e da comunicação telepática entre músicos. The Pyramid Sessions, por outro lado, é resultado directo de noites solitárias num estúdio que D-Mars conhece como a palma da sua mão, situado num edifício que deve o seu nome às mais famosas construções do Antigo Egipto. Visto sob esse prisma, este álbum reflecte uma das paixões musicais de D-Mars, filtrada pela sua filiação estética nos campos do Hip Hop. Mas é igualmente fruto de uma visão generosa da música, de uma imaginação fértil que colocada em prática no espaço do estúdio permite conjurar encontros inimagináveis entre solistas de outros tempos, fixados em vinil, e a panóplia electrónica que o estúdio coloca à sua disposição, entre o espaço virtual da MPC e a respiração natural de músicos como Rodrigo Amado (saxofone), NelAssassin (gira-discos), D_Fine (voz) e T-One (guitarrista que é igualmente líder dos funkers Mr. Lizard). Assim, The Pyramid Sessions não reflecte apenas o papel de D-Mars como produtor, mas afirma-o igualmente como orquestrador, compositor e catalizador de talentos com origem diversa. Além, claro, de manipulador sério da mesa de mistura e das potencialidades do estúdio, pois este álbum foi inteiramente gravado e misturado pelo próprio D-Mars.

Nos 14 temas de The Pyramid Sessions D-Mars explora a sua ideia pessoal de jazz, conciliando pianos, guitarras, sopros e vibrafones, breaks de bateria e cortes de scratch com a maturidade de quem aprendeu a olhar para a música através dos generosamente amplos olhos do Hip Hop. Porque além de todos os classificativos apontados no parágrafro anterior, D-Mars é igualmente um crate digger convicto, explorador dos mais diversos locais onde o vinil ganha pó e resiste à história. Por isso, The Pyramid Sessions pode ser lido também como uma homenagem a todo um género, como um tributo à nobre linhagem que se estende de Louis Armstrong a Herbie Hancock, de Charlie Parker a Lou Donaldson e de Dizzy Gillespie a todos os outros grandes gigantes da história do jazz. Uma história que D-Mars foi descobrindo de uma forma pessoal, não com a linearidade académica sugerida em estudos sobre o género, mas com o carácter imprevisível e aleatório de quem aborda a música ao sabor das descobertas em lojas onde os discos procuram novos donos.


O album The Pyramid Sessions (2005) é um hino à boa música. É tudo o que posso dizer.

Rocky Marsiano live @ Interparla 2008 (Madrid) - Dois homens nos pratos (RM é o da direita) um sax e um guitarrista... bingo! O sample usado é de Common e da sua música/hino/monumento do hip hop mundial, I used to love H.E.R.



Rocky Marsiano MySpace

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