sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Peace, Love, Unity and Having fun 17 NOVEMBRO CASINO LISBOA



Afrika Bambaataa (AB) é o terceiro artista da nossa rubrica sobre o ciclo de concertos que vem trazer o melhor do Hip Hop mundial a Lisboa.

Reconhecido unanimemente como o avô do hip hop, é a ele que se imputa o despontar do Hip Hop enquanto filosofia e estilo de vida. Enquanto cultura própria e com propósitos bem claros. Mas recuemos um pouco no tempo...
Originário de um dos blocks mais férteis em violência (mas também de rappers) de New York City - o Bronx - AB desde cedo se iniciou na vida de street gang que proliferava pelas décadas de 60 e 70 nas maiores cidades dos EUA. É por esta altura que se massifica a imigração de africanos e hispânicos na busca do já quase cliché american dream. Acontece que, como sabemos, essa busca redundou muitas vezes numa exclusão social tremenda cuja expressão mais popular é o Ghetto. Envoltos em vidas familiares altamente desiquilibradas e ignorados por uma sociedade também ela ghettizada (para os ricos, repare-se no fino paradoxo), muitos jovens caíam (e caiem...) na vida do crime: violência, droga, armas e por aí fora. Ora o Bronx desde sempre que foi um dos centros desta marginalidade, a par de outros locais como o Harlem ou Brooklin, por exemplo.

No início dos anos 70, AB fazia parte dos Black Spades, um dos grupos de jovens delinquentes que se passeava no Bronx. A rivalidade e violência entre gangs era uma constante na vida de AB e muitos outros, até ao dia em que AB perde o seu melhor amigo numa rixa. Perturbado pelo acontecimento, AB reflecte sobre o quotidiano que o rodeava e chega a uma conclusão tão simples quanto inteligente: porque não usar tanta força jovem para fazer algo de útil para o bem-estar de cada um e da comunidade? Ainda hoje AB frisa esse espírito aristotélico quando refere que a solução só pode continuar a ser uma: transformar energia mal utilizada em energia positiva, construtiva, comunitária.

Ávido coleccionador de vinys, AB vai fazer do hip hop o meio de expressão das suas ideias para os jovens. E nesta dimensão da música enquanto veículo de transmissão, falar de AB é indissociável de falar em Kool Herc, DJ jamaicano imigrado, que já animava fazia algum tempo as block partys com o seu primitivo soundystem (música muito alta passada em plena rua) onde se faziam ouvir o dub e o reggae, a que mais tarde se juntaram o funk de James Brown, o soul e o gospel. Foi este o primeiro homem a tocar com dois gira discos assim como foi o pioneiro na arte do breakbeat - a repetição de um só trecho rítmico, forte, seco e puro. Como que o beat-base do funk. À técnica (os skills) AB juntou então os seus vinys onde a novidade era o registo electrónico que conhecia por intermédio dos Kraftwerk, que vinham a produzir e a revolucionar desde o início da década de 70. Foi uma mistura explosiva que incendiou os corpos dos que se entregavam à dança com ágeis movimentos de difícil execução: os breaker (de breakbeat) boys (b-boys ou b-girls). Simultaneamente, era usual convidar alguém para ir falando enquanto o dj tocava e os breakers dançavam. Os Master of Cerimony (MC) apresentavam os participantes, anunciavam quem chegava à festa, mandavam bocas aos amigos da assistência e iam animando as hostes com rimas bem humoradas.
A ideia-chave era uma: competir, disputar, rivalizar com arte, engenho e boa disposição. Retirar os jovens da delinquência e reuni-los para se divertirem e celebrarem. Para esquecerem por momentos as agruras do dia a dia.

Mas AB ousou ir mais longe: criou a Zulu Nation, ONG que desde então se bate pela difusão dessa filosofia de vida e que cuja forma de estar se resume pela trilogia presente no título deste texto. Nesse sentido, tem percorrido o mundo dando concertos cujas receitas revertem para solidariedade e combate à exclusão social. Ontem como hoje. Provavemente, como amanhã. No seu website, podemos encontrar os princípios e valores por que se guia, tendo sempre o Hip Hop como meio de comunicação.

Afrika Bambaataa é o autor de algumas malhas que representam a fase mais party people do rap: Planet Rock (mítica), Got That Vibe (com King Kamonzi), Jazy Sensation ou Zulu Nation Throwdown são alguns exemplos. O conceito floresce e surgem novos nomes que ficariam para a história do Hip Hop: Grandmaster Flash (quem não se lembra de The Message?), Sugar Hill, Kurtis Blow (Christmas rap, These are the breaks!!), entre outros.
AB foi também o primeiro artista de rap a trabalhar com o pai do soul James Brown, parceria da qual saíu a faixa Peace, Love, Unity and Having Fun.
Com a década de 80, o Hip Hop fixou as suas 4 vertentes fundamentais: deejaying, mcing, breakdancing e writting (grafitti). Note-se como em todas elas há um enorme apelo ao duelo e ao desafio enquanto formas de comunicação e socialização.
Neste momento, acrescento ao termo Hip Hop a concepção formulada por KRS-One: Hip is the Knowledge, Hop is the Movement. Cultura em movimento, portanto!
Não falar na história do Hip Hop em si ao falarmos de Afrika Bambaataa é tarefa impossível. E por isso mesmo escrever sobre AB implica dedicação e empenho. Todavia, como qualquer trabalho de pesquisa histórica, está sujeito a alguns lapsos e falhas, pelo que serão porventura muitos outros nomes intimamente ligados às raízes do Hip Hop. Pelo que desde já ficam as minhas desculpas por qualquer esquecimento. Como ficam também a minha abertura a possíveis correcções!

Nos dias de hoje, com 51 anos, Afrika Bambataa é um homem cuja vida é transversal a mutações profundas oEUA, não só na música como também na política. Note-se que a segunda metade do séc. XX foi um período agitado para a América, por motivos mais que sabidos. No que à musica diz respeito Afrika Bambaataa testemunhou, como ele próprio refere em algumas entrevistas, movimentos como o rock, o punk, o heavy metal ou os caminhos alternativos que o Hip Hop tomou.

Para terminar, vamos embelezar o SS com alguns dos beats mais clássicos dessa cultura por quem tenho um carinho muito pessoal.
Como já dizia KRS-One, Hip Hop lives!

Afrika Bambataa is in the house:

Planet Rock



Peace, Love, Unity and Having Fun (live)



Peace, Love, Unity and Having Fun (com James Brown)



Looking for the perfect beat



Renegades of the Funk (com The Soul Sonic Force)


Shake Pop 'n' Roll



Afrika Bambaataa MySpace
Zulu Nation website

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