sábado, 18 de outubro de 2008

Gifted Unlimited Rhymes Universal (GURU) directly from Brooklyn, New York City 3 NOVEMBRO CASINO LISBOA



Keith Edward Elam é a lenda viva do rap americano que vem incendiar Lisboa com o seu flow jazz-rap no dia 2 Novembro, no Casino de Lisboa.

Conhecido no mundo artístico como Guru, está activo desde a década de 90 quando juntamente com DJ Premier fundou os inolvidáveis Gangstarr. Se há muito boa gente que considera a década de 90 como a golden age do rap americano, então a presença dos Gangstarr será um fortíssimo argumento para o explicar. Já em 1989, a dupla lançara No More Mr. Nice Guy, album onde se manifesta o beat acelerado característico da época (influências de nomes com Run DMC ou NWA). Se DJ Premier começa a dar os primeiros sinais de magia nos pratos, Guru apresenta logo o seu cartão de visita: sobriedade, inteligência, maturidade, serenidade. E muita, muita agilidade na arte do spitting on the mic. O discurso de Guru encontra-se esparso em diversas mundividências: a arte e o prazer de rimar (daí as iniciais GURU); o panorama americano do hip hop e o que este significa enquanto modo de vida (a trilogia clássica do Peace, Love & Safely Having Fun); a instrospecção profunda (veja-se a faixa Moment of Truth do album com o mesmo nome, 1998) com descrições depressivas mas com mensagens de optimismo; letras festivas e de celebração do dia-a-dia e da boa vibe; a crítica social e política (nesse sentido, por exemplo, Code of The Streets do disco Hard to Earn, 1994) embora esta temática tenha relativamente menor peso quando comparada com outros grupos da mesma época - lembre-se especialmente os Public Enemy que haviam acabado de incendiar a América com It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back (1988) e Fear of a Black Planet (1990).

1993 é um ano marcante para Guru e para a história do rap americano. Se é verdade que já antes desse ano, boys como Jazzy Jeff, A Tribe Called Quest, Common ou Pete Rock & CL Smooth haviam já dado um cheirinho de jazz aos seus beats, é com Jazzmatazz, Vol. 1 que os tons de Nova Orleans se espraiam assumidamente pela cena rap. Já por aqui falei deste album, pelo que me resta reafirmar a super-qualidade deste disco. É um verdadeiro must-have. Ou um must-listen, se quiserem. Guru no microfone cheio de flow, e uma fauna jazzística a dar-lhe música. Muitos pianos, baixos, guitarras, saxofones e vocals femininos da mais pura sensualidade - N'Dea Davenport dos Brand New Heavies é um exemplo. Referências do mundo jazz? Donald Bird, Roy Ayers ou Ronny Jordan, para citar alguns. Jazzmatazz Vol. 1 é na minha opinião o marco por excelência da era do jazz-rap americano, que tantos prosélitos haveria de encaminhar. Como li na AllMusic.com, Jazzmatazz Vol. 1 is a rap album for jazz fans and a jazz album for rap fans, skillful and smart, clean when it needs to be and gritty when that's more effective, helping to legitimize hip-hop to those who doubted it, and making for an altogether important release.

Entretanto os Gangstarr continuaram a lançar albums (Hard to Earn em 1994) e Guru a produzir jazz-rap. A segunda fornada do seu projecto pessoal sai com Jazzmatazz, Vol. 2: The New Reality (1995), onde Guru reune artistas como Kool Keith (louco!!), Jamiroquai, os repetentes Ronny Jordan e Donald Byrd, Chaka Khan, Kenny Garrett, Bahamadia, entre outros. O registo melódico é o mesmo, embora a a composição e a expressão da rima deixe mais vincado o cariz rap do disco.

Se nos dois primeiros capítulos da saga Jazzmatazz o produtor foi DJ Premier (o mesmo dos Gangstarr), em Jazzmatazz, Vol. 3: Streetsoul (2000) encontramos no estúdio o eterno J Dilla (RIP). Em Jazzmatazz, Vol. 4: The Hip-Hop Jazz Messenger: Back To The Future (2007) o arquitecto é Solar. Em Streetsoul, o declínio do jazz mais tradicional confirma-se, vindo ao de cima o soul e o r&b (o genuíno). Nesse contexto, são ilustres as presenças de Angie Stone, Bilal, Craig David, Erykah Badu, The Roots (!), Macy Gray, Pharrel Williams (a despontar na altura) ou Kelis. Nomes que muitos incluem na vaga do neo-soul americano. Herbie Hancock (!!) e Isaac Hayes representam o lado mais jazzy e funky do disco. Keep your worries (com Angie Stone), Plenty (dueto esplêndido com Erykah Badu) ou Timeless (com Herbie Hancock) são algumas das faixas que exprimem a riqueza eclética deste trabalho.
The Hip-Hop Jazz Messenger: Back To The Future (2007) marca o aparecimento do produtor Solar ao lado de Guru, parceria que se voltará a ver num disco de que ainda falaremos. Ora pode-se dizer que o resultado da parceria foi proveitoso. Solar tem um estilo próprio, não destoando no entanto do espírito da colectânea. Mantem-se a vibe soul/r&b/rap com novos convidados: Common (as minhas vénias), Slum Village, Bobby Valentino, Damian Marley, Raheem DeVaughn ou Blackalicious (grande malha!). O equilíbrio da balança é o mesmo: do jazz temos agora David Sanborn, Ronnie Laws e Bob James. Solar parece-me a mim um corajoso, ao lançar-se ao lado de Guru pela primeira vez num projecto desta dimensão. Diga-se que a coragem é recompensada... o disco começa logo com um som portentoso: Cuz I'm Jazzy solta funk a rodos. E diz Guru: "I'm Jazzy like Dizzy and Bird" em alusão a Dizzy Gillespie e Charlie Parker, já aqui musicados.

E quanto aos Gangstarr? Bem, esses continuam imaculadamentea produzir alguns dos discos mais clássicos da história do hip hop: Moment of Truth (1998), Full Clip: A Decade of Gang Starr (1999), The Ownerz (2003) e Mass Appeal: Best of Gang Starr (2006).

Em 2005 Guru lança então, novamente com Solar no estúdio, Version 7.0 The Street Scriptures. E mal começa a primeira faixa a rodar, as nossas possíveis preocupações se desvanecem. É o velho Guru. Igual a si próprio. Solar confirma as boas indicações deixadas no volume 4 de Jazzmattaz. Arrisco mesmo dizer que não soubéssemos da história até diríamos que Solar e Guru já tocam há muito tempo juntos. Melhores bats deste belo disco: No Time, False Prophets, Step in the Arena 2 (I'm sayin), Surviving tha game, Hall of Fame, Kingpin, Fa Keeps, Feed the hungry e What's my life like. Preferidas: Hall of Fame, Feed the hungry e What's my life like.

Como já foi referido no post sobre Premier, hoje são muitos os pontos de interrogação quanto à carreira dos Gangstarr. Sem discos de originais desde 2003, ambos têm continuado a produzir e a dar espectáculos mas por caminhos separados. Não confirmam zangas nêm anunciam regressos. Marketing ou factualidade? Não saberemos por enquanto.

Enquanto Master of Cerimony, Guru detém um estatuto que poucos tiveram ou têm no presente. No passado, talvez só Notorious BIG e Tupac Shakur, e estes por motivos também além-música. No presente, o lendário Afrikaa Bambaataa, KRS-One, Rakim, CL Smooth, Q-Tip (A Tribe Called Quest), Chuck D (Public Enemy) e Black Thought (The Roots) serão dos poucos que se elevam ao seu patamar no ambience da comunidade oldschool. É que Guru transpira classe. Estilo. Serenidade. Maturidade. É um senhor do mic. Daí também os numerosos trabalhos para os quais é requisitado o seu contributo.
Que maior elogio se podia aqui fazer a Guru do que dizer que este blog deve o seu nome ao seu último album? I'm down on my knees.

Sometimes you gotta dig deep, when problems come near
Don't fear things get severe for everybody everywhere
Why do bad things happen, to good people?
Seems that life is just a constant war between good and evil
The situation that I'm facin, is mad amazin
To think such problems can arise from minor confrontations
Now I'm contemplatin in my bedroom pacin
Dark clouds over my head, my heart's racin
Suicide? nah, I'm not a foolish guy
Don't even feel like drinking, or even gettin high
Cause all that's gonna do really, is accelerate
The anxieties that I wish I could alleviate
But wait, I've been through a whole lot of other shit, before
So I oughta be able, to withstand some more
But I'm sweatin though, my eyes are turnin red and yo
I'm ready to lose my mind but instead I use my mind
I put down the knife, and take the bullets out my nine
My only crime, was that I'm too damn kind
And now some skanless motherf**kers wanna take what's mine
But they can't take the respect, that I've earned in my lifetime
And you know they'll never stop the furious force of my rhymes
So like they say, every dog has it's day
And like they say, God works in a mysterious way
So I pray, remembering the days of my youth
As I prepare to meet my moment of truth


Moment of Truth (Gangstarr Moment of Truth, 1998)

Guru - Loungin' com Donald Byrd (Jazzmatazz Vol. 1)



Guru MySpace
Gangstarr MySpace

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