quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
dos críticos
João Bonifácio (JB), crítico de música (entre outras coisas), assina no último ípsilon (suplemento do Público), um artigo a propósito do álbum In search of Stoney Jackson (2010), dos Strong Arm Steady, em que os elogios são tantos e tão profundos, que o leva mesmo a dizer, com honras de sub-título (na versão impressa), que estamos perante "o melhor disco de hip-hop, jazz e funk que se ouviu em muito tempo". Assalta-me logo uma dúvida: o que significa, ao certo, "em muito tempo"? Um ano, dois? Uma década? Bem, em qualquer das duas, o juízo parecer-me-ia infundado - basta pensar no álbum Early Believers (2009), de Kero One (álbum de que estranhamente ninguém falou para os melhores discos de 2009). Por outras palavras: parece-me a mim que neste artigo, o crítico padece do vício tão natural dos críticos que mais estão por dentro da "cena": o "deixar-se ir", a apreciação exacerbada própria de quem está em contacto muito directo com o autor da obra e que, por isso mesmo, acaba por se lhe toldar um pouco a razão. Compreendo o excesso (sem ironias!); mas para quem lê e depois ouve, é inevitável percepcionar uma certa alienação de quem avalia.
Mas é In Search of Stoney Jackson um mau disco? Não, claro que não. É um bom disco, até porque a produção esteve nas mãos de Madlib e isso significa inexoravelmente boa música. O que acontece é que In Search of Stoney Jackson não é o disco que JB descreve nem de perto nem de longe (cheguei mesmo a pensar na possibilidade de ter ouvido uma mixtape do mesmo grupo, mas com o nome trocado). Que os beats são muito bons, ninguém discute (volto a lembrar o factor-Madlib); mas o que também ninguém poderá conscientemente afirmar é que sejam alguma coisa de extraordinariamente fresco, original. São os samples da velha escola, o mesmo é dizer, soul e funk norte-americanos dos anos 60 e 70. Claro que um "clássico" (JB não hesita em assim apelidá-lo!) também se faz (talvez na maioria das vezes, até), não de coisas "frescas" e "originais", mas de produtos consolidados e sabiamente explorados.
... (escrevo e reescrevo mil vezes um parágrafo)
Stop: talvez esteja a ser injusto. Façam por vós próprios: antes de ouvirem o disco (ou as faixas abaixo), leiam o artigo, absorvam-no e pensem em que tipo de disco estão à espera. E depois, finalmente, oiçam-no. E dêem-me o vosso feedback. :)
O artigo (penso que é a versão completa) pode ser lido aqui.
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