quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

virada

A rua despede-se de 2008, celebrando o novo ano vizinho. Esperando que esse 2009 seja, não melhor para nós, que na verdade não precisamos, mas para tantos outros... esses sim, desesperadamente desejosos de um ano melhor.
Todos juntos, celebremos!



(Kool and The Gang)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

música para fazer amor com a sua old lady*



*Porque não encontrei um substituto semântico adequado para "old lady". Alguém me ajuda?

LOVAGE - Music to Make Love to Your Old Lady by (2001), é um disco tão excêntrico quanto o seu produtor Nathaniel Merriweather (apenas mais um heterónimo...), elemento, em parceria com Prince Paul (recordemos o seu papel nos primeiros discos dos De La Soul), dos não menos excêntricos Handsome Boy Modeling School.

Dado que já conhecia o seu trabalho a meias com Prince Paul em discos como So... How's your girl? (1999) ou White People (2004), não foi propriamente com surpresa que escutei mais um registo de excelente qualidade. Musicalmente, os beats embelezados pelo soul, o jazz, os blues e até o country, tudo sabiamente mexido dentro uma panela electrónica, conduzem o ouvinte até a um trip-hop multifacetado (trouxe-me à memória o Blue Lines dos Massive Attack) muito charmoso e a tender para o erotismo. Psíquicamente, as letras, as bocas bem-humoradas e as idiotices abundantes em cada música são já um habitué que, não obstante o serem, continuam a ter piada. Uma atmosfera entre o sexual e o alucinado com palavras românticas e obscenas servidas em doses iguais num declamar vagaroso e provocante.
Mas bem, se estivermos por casa com amigos, ninguém dá conta das letras e o disco passa por um registo muito... intimista. Hoje o termo até está em voga e tudo. :)

No final de contas, o título do disco tem razão de ser...

Finalmente, hoje temos clips! Dois, até.
Querido leitor: sirva-se de um bom vinho tinto e acenda um cigarro. E o resto imagine.

Stroker Ace



Book of the Month

back in the days...

Tudo bons rapazes!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Não colaboramos mais com esses filhos da mãe!

Grande clip, grande som, grande scratch (o mesmo Nel Assassin do post anterior) e grande, enorme... Sam the Kid! Acabei de descobrir este clip agora e até ao momento em que o abri só lia coisas do género: "Sam the Kid fantástico!"; "Alguém tem esta letra do Sam?". Depois, enquanto via o clip, o aparece-desaparece intermitente do Sam foi aguçando o apetite. E então o Sam rappou. E eu senti-me cheio de força. Brutal.
Respect!

Philharmonic Weed - A Benção feat. Nel Assassin e Sam the Kid

Cose, descose e remenda


Sr. Alfaiate é um heterónimo do produtor, rapper ocasional, mestre do turntablism e dj Nel Assassin, de quem já tocamos por aqui um belo beat.
Desta feita, a menção vai para o seu fabuloso A vida na ponta dos dedos (2006). Um disco muito ao estilo de Pete Rock (aprecie-se o seu delicioso Soul Survivor) onde o hip hop, o soul, o rnb e o funky fazem a festa. Impetuoso nos beats, clássico nos samples de soul, meloso nos vocals (Kika Santos, SP e Melo D) e atrevido quando chama por um pé de dança, este é um Nel Assassin ao nível dos melhores produtores americanos de hip hop da velha escola. Velha escola na técnica (o scratch, o sample, a mistura, enfim, o mágico turntablism) e na emoção ímpar do soul e do funk que os beats transmitem. E por isso é que a metáfora do título do disco faz sentido.
Como se ainda não bastasse, o rol de convidados é de luxo: Melo D (por aqui tocado há uns tempos), SP, DJ Riot dos Buraka Som Sistema(agradável drumNbass final), Kalaf (o cavernoso poeta do além) e o inevitável Sam the Kid.
Neste ano que finda foi dos discos que mais me prazer me deu de escutar. Os meus sinceros parabéns pela genialidade.
Big up!

(Infelizmente, não há qualquer registo deste disco no youtube. Se alguém souber como linkar aqui apenas mp3 que me diga por favor)

sábado, 27 de dezembro de 2008

Capicua meets Preemo

Quem hoje não tiver planos para a noite e quiser ouvir uma mulher tão sofisticada quanto mandona (musicalmente falando) então que apareça no PinUp Bar, pelas 23H.
Ela dá pelo nome de Capicua e é um caso sério no mic. Rimas provocantes, feministas, inteligentes e com alto perigo de explosão. Hoje apresenta a sua mixtape Capicua meets Preemo. Ou seja, é Capicua a rappar por cima de beats do Premier. É certo que ajudinha do guru dos pratos dá um certo jeito, mas a verdade é que o rap desta rapariga queima!

No seu MySpace podem ouvir algumas coisas. A minha preferida é a Lingerie.
Check it!

Capicua meets Preemo - História de Amor

São Bonnie and Clyde
roubam palmas contra a gravidade!


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

(Merry) Christmas Rappin'

A propósito da data que se avizinha, aqui fica o desejo de um Feliz Natal. A dançar, claro! :)

Kurtis Blow - Christmas Rappin'

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

get jiggy

Amanhã, sexta feira, a partir da meia noite, irei estar novamente a pôr música na festa Erasmus da residência universitária situada na Rua do Breyner, número 262.

Show up!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Capas - Anatomy of a Murder (1959)

Funk continua a ser mem' bom


Os Cool Hipnoise tocam amanhã no Porto, no Teatro Sá da Bandeira. Timing pois para prestar tributo a um dos grupos mais frescos, ecléticos e inovadores da música portuguesa. Entre o funk, o soul e música oriunda do continente africano, o resultado final é verdadeiramente... cool!
O seu último disco (Cool Hipnoise, 2006) é muito bom. Para dançar ou para curtir por casa. Ou para dançar por casa, porque não.
Faixas preferidas: Caótica, Kita essa Dama, Katinga, Dias de Confusão, Escanifobética, Labirinto, Dá-me dá e Tudo a nu (versão alternativa com os mcs Sam the Kid e Regula numa divertidíssima jam session).

Kita essa Dama



Dois Dias

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

damas no mic


Elas chegaram, viram e venceram. Num mundo que era (e ainda é infelizmente) dominado totalmente epelo sexo masculino, elas revolucionaram. Falo do mundo do hip hop, pois claro.
Se hoje continuam a ser poucas as caras femininas de destaque na cena rap internacional(tirando casos pontuais como Lil Kim, Lauryn Hill, Missy Elliot ou Lady Rage), bem como na portuguesa, imaginem o que terá sido estas três freaks apareceram na década de 80 a rappar. Ainda por cima sem papas na línguas!
Salt é Cheryl James (mc); Pepa é Sandra Denton (mc); Spinderella é Deidra Dee Dee Roper, a mulher dos pratos. Letras bem-humoradas e sexuais, irreverentes e feministas, enérgicas e descomprometidas... Como se costuma dizer na minha terra, elas não papam grupos!
Hoje fica o disco Very Necessary (1993), onde encontramos, entre outras, a fantástica Shoop. Espectacular para tocar numa festa...

Esta nem é a versão que mais aprecio. A que tenho gravada em cd (ao vivo) é ainda mais party.

Shoop

Ladys



Reparei que o SS tem musicado pouco no que toca a artistas no feminino. Por isso mesmo, tentarei nos próximos tempos dar maior ênfase a discos de meninas, jovens, mulheres e senhoras.
Começo justamente com alguém que consegue ser tudo isso numa só: Mayra Andrade. Para quem gosta de Cesária Évora ou Tito de Paris, música brasileira ou simplesmente boa música, Navega (2007, único disco até agora editado) é um disco absolutamente imperdível.
Tenho para mim que Mayra vai dar muito que falar no resto da sua carreira. Tanto. Bem sei que as comparações com Cesária são fáceis de fazer. Mas a verdade é que se entende o fundamento de tal comparação. É que Mayra também já carrega consigo uma certa aura... (de Diva?)
Definiria este disco - tendo a plena consciência de que discos assim não são definíveis - em três palavras: Amor, Terra e Saudade.
Ah, já agora. Ela é bela, linda, exótica. E canta. Pronto.

Lua



Regasu



Tunuka



Tunuka 2 (na rua)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

hip hop musician, soul music lover, cool funky brother, afro portuguese*




Outro Universo (2003) e Chega de Saudade (2005) são dois discos maravilhosos do português Melo D (não confundir com o produtor americano Melo-D).

Música fresca, viva e eclética. Afrobeat, jazz, soul, funk e hip hop na mesma redoma. E a voz rouca de Melo a seduzir.
Na minha opinião, é no rap que Melo marca menos pontos. É quando espaça a voz e contorna as linhas do soul que se entra num estado chill difícil de sair.
É consciente a junção que Melo faz entre o soul e o hip hop. Ele próprio o destaca nas suas letras, contando-nos um pouco da história deste último.

Creio que Melo D é um dos artistas mais injustamente desconhecidos da boa música portuguesa.

São poucos os clips de Melo D no youtube. Ficam alguns da sua autoria e um outro dos Cool Hipnoise, do qual Melo D fez parte, e que na altura ('95) fez muito furor.

Cool Hipnoise - Funk é mem' bom (Melo D num estilo muito Guru)



Melo D - Boas Vibrações (com Sagas)



* retirado do seu MySpace

Para que este clip não fique esquecido

DJ Nel Assassin, Family e Sagas.
Hip Hop e afrobeat em harmonia. No que toca ao clip, é das melhores coisas dos últimos tempos na cena portuguesa. Os parabéns para o realizador.

It's a complow

domingo, 7 de dezembro de 2008

Improvisos - Sam the Kid

Na rúbrica de hoje vamos até ao Festival Paredes de Coura de há uns anos atrás escutar um freestyle de um Sam mais novo e mais magro. Já o improviso é com a mesma qualidade de sempre.
Nos pratos está o DJ Kronik. O beat inicial é o Sound of the Police, do KRS-One. A ele se segue, enquanto o Sam rima, o clássico Ante Up, dos MOP. Sam faz referência aos Puddle of Mud, banda que ia entrar de seguida.
Enjoy!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

bons concertos em Dezembro





- DEALEMA (!) dia 6, no Cinema Batalha.

- NBC e Os Funks dia 7, no Plano B.

- Cool Hipnoise dia 12, Teatro Sá da Bandeira.

Tudo produto nacional, tudo boa música!

Capas - Criminal Minded (1987)



KRS-One, um dos discípulos de Afrika Bambataa, inicia em '87 com a Boogie Down Productions um trajecto ímpar na história do hip hop. É hoje um dos grandes mentores e resistentes da cena Peace, Love, Unity and Safely Having Fun (Afrika Bambataa, pois claro) do hip hop americano.
Este disco surge na altura como um alerta de consciência anti-violência para os jovens de bairros sociais americanos problemáticos, como era o aliás o seu - o mítico Bronx. Surge igualmente como uma das primeiras críticas ao gangsta rap que começava a despontar na altura (relevo para os NWA, claro, com o seu agressivo Straight Outta Compton - 1988).

Por coisas como estas é que KRS-One é conhecido como Tha Teacher. Peace and Love... BY ALL MEANS NECESSARY.

domingo, 30 de novembro de 2008

from and to the Soul



Os De La Soul actuam amanha no Casino de Lisboa depois de DJ Premier, Guru e Afrika Bambataa.
Para os menos conhecedores na matéria, nunca é demais dizer que passaram pelo Casino lisboetaalgumas das raízes do Hip Hop. Que provavelmente, e infelizmente, nunca mais vão voltar a pisar um palco português. Por motivos diversos acabei por não a ir nenhum. E quanto a amanha, ainda estou na dúvida.
Mas bem, de qualquer forma fica o meu grande, enorme, incomensurável tributo.

Dos De La Soul, o que dizer? Já os chamaram de poetas, loucos, intelectuais, psicadélicos, hippies, surrealistas, freaks, pacifistas e por aí fora. Posdnuos, Trugoy e Maseo aceitam tudo e rejeitam tudo. Gozam e divertem-se. Guardam tudo na sua muito própria Soul... e depois deitam-no cá para fora!
3 Feet High and Rising (1989), De La Soul is Dead (1991), Buhloone Mindstate (1993), pelo menos estes três, figurarão em qualquer top dos melhores discos da história do Hip Hop. Ainda assim, a sua qualidade não se resume ao hip hop: o soul e o funk são sonoridades recorrentes na sua música, daí as suas malhas serem muito boas se quisermos pôr a malta a dançar.

Aqui ficam alguns dos clips que fizeram história:

Me, Myself and I



Say No Go



Eye Know



Ring Ring Ring (Ha Hey Hey)

O Inverno e Eu


Vou juntar-me aos românticos que têm aclamado a meteorologia dos últimos dias. Quanto à descrição das circunstâncias, essa já está vista e revista, pelo que me limito a repeti-la: frio, chuva, casa, lareira, manta pelos pés, chá no bule.

O meu contributo para esta pax caseira é musical: Ella and Louis (1956) - Ella Fitzgerald e Louis Amstrong a aquecerem-nos a alma. É o disco por excelência para ficar no aconchego do lar (quando temos a sorte de o ter...).

Stompin' at the Savoy

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Para gregos e troianos



Camané canta amanha no Coliseu do Porto. Já o vi algumas vezes mas amanha não vou deixar de o ir ouvir. É sempre um prazer e uma intimidade pujante que só sente quem está lá.

Mas é por sábado que espero com maior curiosidade. Na Casa das Artes de Famalicão actua o cabo-verdiano Tito Paris. Ouçam o Acústico (2007) e depois pensem se não gostariam de ir ouvir a dengosa morna... E dançar! Ah!, como adoraria dançar a morna... Como canta o Seu Jorge, bota no swing!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

fazendo da música um tabuleiro de xadrez



How about a game of chess? (2005) é o segundo disco que aqui toco de Marc Mac (aka 4Hero). Depois desse visioneers - dirtyoldhiphop (2006), este é outro repertório fabuloso onde o Hip Hop veste a pele de anfitrião e recebe os distintos convidados chamados Soul, Breakbeat, Trip Hop e Jazz. Deste amistoso convívio resulta uma fotografia de grupo onde cada elemento faz reflectir a sua personalidade no resultado final: emoção, sedução, boa disposição, esperança, chill out, amor... A lista de adjectivos alegres e positivos não é à toa: talvez apenas a faixa 15, Angels tune, apresente um registo mais blue.
À semelhança de visioneers - dirtyoldhiphop, este é um disco que gosto do princípio ao fim. Sem excepções.

Curiosidade: a faixa 14, No Bread No Peace, dá já um cheirinho dos títulos de música revolucionários que abundam no seu disco de 2006 - It's Right to Be Civil.

Tal como quando aqui toquei visioneers - dirtyoldhiphop, continuam a ser pouquíssimos os clips de Marc Mac no youtube. Fica pois uma faixa desse disco.

The World is Yours

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

watch out...*

Amanhã, sábado, a partir da meia noite irei estar a pôr música na festa Erasmus da residência universitária situada na Rua do Breyner, número 262.
Para quem não tiver planos, fica o convite. A sonoridade andará obviamente à volta daquilo que por aqui escrevo.

*THE BREAKS !!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Maturidade,

o mais recente album de NBC (ao qual já fiz a minha vénia), será apresentado ao vivo na cidade Invicta, dia 7 Dezembro, no Plano B. NBC no mic e Os Funks no backstage instrumental.
Para amantes do soul e do funk, e especialmente para aqueles mais desconfiados do hip hop, esta é uma oportunidade para descobrirem e apreciarem um belíssimo disco. Para os já familiarizados com o trabalho de NBC, é um concerto imperdível.
Lá nos vemos!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Capas - Anthology (1999)



É-me difícil escolher uma capa de disco dos A Tribe Called Quest. Se pesquisarem perceberão porquê.
De qualquer das formas, a escolha acaba por recaír em Anthology (1999). Como desta rubrica pretendo essencialmente contemplar e apreciar uma imagem, por regra não me vou debruçar sobre o disco em si.

P.S. 1 - Isto não invalida que volte a colocar outras capas de disco dos ATCQ. :)
P.S. 2 - Coisas que não interessam a ninguém: esta imagem é a que tenho definida como ícone de utilizador no windows.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estado de Necessidade



Precisava de dizer isto. Tive a ouvir o primeiro disco do Prince: For You (1978). É o verdadeiro rythm and blues - o tão hoje malfadado R'N'B.
Isto sim, é rnb! Amor e Sensualidade para dar e vender... taaão bom!

domingo, 16 de novembro de 2008

Filho do Homem negativo, eh eh eh!



Estávamos em 1995 e os Kussondulola lançavam o primeiro disco de reggae em português. Foi o que bastou para o angolano Janelo e companhia imortalizarem temas como Dançam no Huambo (muuuito groovie!), Perigrosa, Fizeram tudo, Guerrilheiro ("Assim como Deus fez a terra, Assim como Deus fez o mar..."), Jovem do Prenda, Naty dread looks (quem é que sabia o que era um "naty dread" à época?!) ou Assassineta.

Para os mais atentos, esta é a primeira vez que um registo reggae/dub toca por aqui. E não é à toa. É que hoje em dia o jah-babilónia-reggae torna-se por vezes insuportável. Por um lado, precisamente pelas letras não falarem de outra coisa a não ser do metafísico e, pior, banalizado, jah; por outro, porque a musicalidade ou é foleira, perto do pimba, ou então é de uma monotonia que é tiro certo para dormir.

Ora com este grande disco dos Kussondulola, o reggae surge-nos animado e altamente dançável, sem prescindir de momentos em que o dub dá um toque mais smooth. No que à lírica diz respeito, Janelo comunica com mensagens muito claras, muito terra a terra se quisermos. Bastante comoventes, por vezes. E diversas: consciência social e humanitária, alusões nostálgicas a Angola e África, celebrações do dia a dia, o Amor e a Mulher, entre outras.

Para os fans do reggae, em português ou não, este é um disco de grande valor. Não só pelo valor histórico e simbólico, mas também pela excelente música com que somos brindados. Pessoalmente, um disco de grande valor porque é a dançar que eu gosto de curtir reggae. Mas gostos são gostos!

P.S. - Há melhor cumprimento do que "Tá-se bem"? Para mim é quase uma filosofia de vida...

Dançam no Huambo



Kussondulola site oficial
Kussondulola MySpace

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Capas

O SS passa a contar a partir de hoje com uma nova rubrica (a par dos Improvisos), e isto por culpa dos Strokes. Apesar de nem ser uma banda de que goste particularmente, a verdade é que quando estava com o disco Is this it (2001) nas mãos, veio-me à cabeça a ideia de aqui ir deixando algumas das capas de cds de que mais gosto. Seja pela sua excentricidade, invulgaridade, beleza, simplicidade, ....
Já agora, se por acaso alguém tiver paciência para perder uns minutos, o que acham que uma capa de um disco, apenas a capa, pode dizer do seu conteúdo musical?

Para primeiro número desta rubrica fica pois esta poderosa imagem:

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Nós somos iguais... Vá lá, vá lá...



Beats Volume 1 (2002) é, arrisco-me a dizer, dos albums mais belos e ecléticos que a música portuguesa conheceu neste ainda curto século XXI.
Sam the Kid constrói um puzzle melódico onde a nostalgia, o amor e a saudade se entrecuzam de forma sublime. A estória deste album é particularmente interessante, dado que Sam o projectou baseado em momentos e relatos da sua vida e da de pessoas da sua família, especialmente no que diz respeito à história de amor entre os seus pais.
Para os amantes do soul e do trip hop, este é um disco obrigatório. Não incluo o hip hop pois o registo é todo ele instrumental, embora alguns beats revelem a rítmica própria do rap.

Sam the Kid - Alma Gémea (embora a qualidade video não seja a melhor, não deixem de ver este tão simples quanto terno mosaico de sentimentos...)



Para quando um volume 2?

domingo, 9 de novembro de 2008

What would you do if you were the President?

Mos Def, Murs e Wyclef Jean dão as suas respostas...





sábado, 8 de novembro de 2008

Improvisos - Ornette Coleman

Em homenagem ao grande Coleman a que ontem fui assistir no Coliseu, deixo pela primeira vez nesta minha rubrica um improviso não-vocal mas instrumental.

Ornette Coleman @ Rome, 1974 (o free jazz a ecoar no free Portugal...)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Renascimento (?) de 2008



Aí está!
Q-Tip, qual figura messiânica, volta oficialmente depois de Amplified (1999). Embora pelo meio tenha composto outro disco (Kamaal The Abstrasct, 2002) que por divergências com a editora acabou por não ser lançado no mercado.
Para quem este nome lhe seja alheio, cabe dizer que Q-Tip formou com Phife Dawg e Ali Shaheed Muhammad um dos grupos mais emblemáticos da história do Hip Hop. Os A Tribe Called Quest são apelidados, a par de alguns outros grupos, de criadores do "rap alternativo". Não percebo muito bem o que querem dizer com isto. Mas creio ser comum da onda rotuleira de hoje em dia. Mas bem, para todos os efeitos, alternativos ou não, os ATCQ têm história e música que falam por si. Trouxeram o jazz ao hip hop; levaram o hip hop ao jazz. Trouxeram a poesia ao hip hop; levaram a poesia ao hip hop. Trouxeram a consciencialização político-social ao hip hop;... e o resto já sabem. Só mesmo escutando!

Hoje em dia Q-Tip é um ícone da música norte-americana, colaborando com figuras do jazz, do hip hop, do rnb, do soul ou até na cena electrónica (veja-se Q-Tip em Galvanize dos Chemical Brothers).

Quanto a The Renaissance, confesso que não é um album que me deslumbre. Nem perto disso. Boa música, é certo, mas sem trazer nada de novo, na minha opinião. Q-Tip mantém o seu estilo inconfundível (provavelmente a voz do rap mais sexy da América) acompanhado de uma sonoridade que já conhecemos dos seus trabalhos anteriores: hip hop, rnb, soul. Tudo muito melodioso. Mas nada acrescenta ao que foi feito antes. Daí o termo "Renascimento" perder um pouco o seu sentido, no que a música propriamente dita diz respeito.
Conclusão: um bom disco e pronto.

Getting Up



Q-Tip MySpace

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Life in the Day



of Experimental Music, assim se poderia chamar o segundo disco de Soweto Kinch, segundo disco também por aqui comentado deste inglês.
A Life in the Day of B19 - Tales of the Towerblock (2006), é um disco muito... marado. Se não conhecermos Kinch e ouvirmos pela primeira vez este seu registo, poderíamos ser levados a pensar que o inglês havia reunido os seus amigos com o objectivo de tocar jazz e experimentar umas cenas.
Se no seu disco de estreia (Conversations with the Unseen, 2003), é facil dizer isto é Jazz!, neste Tales of the Towerblock, seria errado fazer um juízo semelhante. Porque erradamente simplista.
Ok, tudo bem, o background é jazz: baixos, trompete, guitarras, bateria, sax. Mas esperem... o que é aquele rap todo? Ou aquelas conversas non-sense? E aqueles sintetizadores estranhos?
Pois! Se no seu disco anterior, só havíamos ouvido Kinch a rappar em momentos pontuais tendo o sax como expressão predominante, neste segundo registo, o músico pousa mais vezes o seu intrumento de eleição e dedica-se à arte da spoken word. No rap mais clássico, mas também no freestyle. E ainda (!) no beatbox (Everybody raps).
A Life in the Day of B19 - Tales of the Towerblock tem, a meu ver, o seu quê de surrealismo. Quer no rap de Kinch, quer na atmosfera sonora, há momentos de puro delírio. Esoterismo aos montes. Veja-se neste sentido as faixas 10.30 Appointment, Ridez, Padz, So! e Who Knows. Jazz mais tradicional em The Mission, Adrian's Ballad (esplêndida!), Marcus's Crisis, A Friendly Game of Basketball (adoro este título!), The House that Love built (e este!). O cruzamento de tons electrónicos e do hoje tão explorado breakbeat exponenciam ainda mais o ambiente quase-alucinado do reportório.
Ouvir este disco é uma viagem. Uma experiência de sons e imagens. Apertem os cintos!

Chris May no AllAboutJazz.com:

British saxophonist Soweto Kinch polarised opinion to the max in 2003, with his jazz 'n' hip-hop debut, Conversations With The Unseen (Dune). Many older listeners hated it, regarding it as a betrayal of tradition of Judas-like proportions. Younger, more inclusive listeners loved it, welcoming it as, simultaneously, a reconnection with jazz's long-lost roots in urban street culture and a way forward into a brighter and more vigorous future. The battle lines weren't wholly characterised by age and anticipated prejudice, however. The great, conscious rapper KRS-One loved Kinch's music and gave him a support slot on tour. More surprisingly, perhaps, Wynton Marsalis professed to like it too. The New York Times, admittedly not the newspaper of choice for most rap fans, thought Kinch could teach the US a thing or two about narrative rap. And the album picked up a string of awards, the most prestigious of which was Album Of The Year in the Mercury Music Prize.

A Life In The Day Of B19: Tales Of The Towerblock, is likely to fan the flames of dispute even harder. As Kinch has it, Conversations was concerned with taking hip-hop to the jazz audience, while B19 is about taking jazz to the hip-hop audience. There is, consequently, an even closer focus on rap, narrative and jazzoetry, alongside more of Kinch's visceral, high octane take on post bop.

Kinch's core quartet—bassist Michael Olatuja, guitarist Femi Temowo, drummer Troy Miller, and the leader on saxophones and keyboards—bring together such diverse influences as Charlie Parker, Ornette Coleman, Stevie Wonder, Charles Mingus and Duke Ellington with energy and high style.

It's all, very nearly, a major masterpiece. And there's more to come. B19 ends with one of the characters finding something unexpected and dramatic in the basement (we're not told what). Next spring, Kinch will release part two of the story, Basement Fables, and we'll find out whether that something is a path to danger or a path to salvation—or neither, or both. Whatever it turns out to be, bring it on.

America



Por mais produtiva e prolixa que seja a lista de (pretensos ou não) intelectuais críticos de tudo e mais alguma coisa nos EUA, eu prefiro não me esquecer que é deste maravilhoso país e deste maravilhoso povo que já nos chegaram algumas das maiores preciosidades que o Homem conheceu. Na literatura, no cinema, no teatro, na ciência... na música.

Especialmente pela música, este blog não se pode deixar de associar ao optimismo e vontade que corre em cada palavra de Barack Obama. Assim sendo, aqui fica uma selecção de alguns clips cuja carga simbólica e mensagem aguardam por uma resposta da nova administração americana. Rap time por excelência.
Stand up Brothers and Sisters!

Tupac Shakur - Words of Wisdom (para ouvir com atenção...)



Gangstarr - Code of The Streets



Dead Prez - Hip Hop



Immortal Technique - Tell the Truth (com Mos Def e Eminem)



Non Phixion - The CIA is trying to kill me



Public Enemy - Fight the Power



Common - A Dream

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Yes, we got it!!



Senhores e Senhoras, Mr. Something Else!!! dias 5 e 7 Novembro, em Lisboa (Aula Magna) e no Porto (Coliseu).

We got the jazz!



PROGRAMA
GUIMARÃES JAZZ 2008

Quinta-feira, 13 de Novembro – 22h00
Kurt Elling Quartet
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €20,00/€17,50 c/ desconto
2ª Plateia - €17,50/€15,00 c/desconto

Sexta-feira, 14 de Novembro – 18h00
Big Band ESMAE conduzida por Marcus Strickland
Guimarães Jazz
Pequeno Auditório
Entrada Livre (até à lotação da sala)

Sexta-feira, 14 de Novembro – 22h00
Steve Coleman and Five Elements
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €20,00/€17,50 c/ desconto
2ª Plateia - €17,50/€15,00 c/desconto

Sábado, 15 de Novembro - 17h00
Ben Monder, Matt Pavolka, Peter Rende, Alexandre Frazão, João Moreira
Projecto TOAP/Guimarães Jazz
Pequeno Auditório
Preço: €5,00

Sábado, 15 de Novembro - 22h00
Django Bates and storMCHaser - Spring Is Here (Shall We Dance?)
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €20,00/€17,50 c/ desconto
2ª Plateia - €17,50/€15,00 c/desconto

Quarta-feira, 19 de Novembro - 22h00
Marcus Strickland Quintet
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço: €7,50/€5,00

Quinta-feira, 20 de Novembro - 22h00
The Cookers
Lee Morgan 70th Birthday Celebration
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €15,00/€12,50 c/ desconto
2ª Plateia - €12,50/€10,00 c/desconto

Sexta-feira, 21 de Novembro - 22h00
Kenny Barron Trio
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €15,00/€12,50 c/ desconto
2ª Plateia - €12,50/€10,00 c/desconto

Sábado, 22 de Novembro - 22h00
Metropole Orchestra conducted by Vince Mendoza
Guimarães Jazz
Grande Auditório
Preço:
1ª Plateia - €20,00/€17,50 c/ desconto
2ª Plateia - €17,50/€15,00 c/desconto

Assinatura Guimarães Jazz 2008
Todos os espectáculos: 80,00€

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Are we ready by now? - Tupac Shakur e os EUA



I see no changes. All I see is racist faces.
Misplaced hate makes disgrace for races we under.
I wonder what it takes to make this one better place...
let's erase the wasted.
Take the evil out the people, they'll be acting right.
'Cause mo' black than white is smokin' crack tonight.
And only time we chill is when we kill each other.
It takes skill to be real, time to heal each other.
And although it seems heaven sent,
we ain't ready to see a black President,
It ain't a secret don't conceal the fact...


Changes, Tupac Shakur

Musicalmente falando, a música foi composta na época social conscience por excelência de Tupac - primeira metade da década de 90 onde encontramos 2Pacalypse Now (1991) e Strictly 4 My N.I.G.G.A.Z. (1993). O "That's just the way it is!" que ouvimos é samplado de The Way it is, de Bruce Hornsby and the Range. É um clássico de sempre do Hip Hop e símbolo deste como instrumento de consciencialização social e política. Como forma de luta e emancipação do ghetto. E o clip puxa a lágrima....

Tupac, rapper, poeta, activista e um ávido leitor de Maquiavel (pois...) diria isto ("We ain't ready to see a black president") nos anos 90, com toda a carga simbólica que daí se depreende. E agora, estamos prontos? E o que trará isso? Tupac já não estará aqui para nos dizer...
Esperemos que sim, esperemos que Tupac já não tenha razão, esperemos que se operem... changes. Até amanha!

domingo, 2 de novembro de 2008

O Sr. Hollywood


Rarities (reunião de faixas antigas lançada em 2004) é um dos poucos discos editados do DJ Hollywood, dj em grande plano nos anos 70 e responsável pelos beats loucos carregados de funk, rock e electrónica kraftwerkiana que reinavam à época no Hip Hop. Com ele trabalharam nomes como Grandmaster Flash ou Donald D, embora nas Rarities que aqui apresento o trabalho seja sempre a solo.
É música de genuína celebração. Letras bem-humoradas e descontraídas aliadas a beats tão oldschool quanto melodiosos originam um disco maravilhoso para pôr uma multidão a dançar. Que curtição seria tocar To whom it may concern, Love in the afternoon (a fazer lembrar Run DMC), Hollywood's message ou Back from the dead numa festa. Ou então observar b-boys e b-girls ao som de Check out the avenue!

Ah... Hollywood tem hoje 54 anos e está bem mais gordo do que na capa do disco!

Shock Shock the House

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

erecto...

com um dos discos de jazz mais belos que escutei nos últimos tempos: Pithecanthropus Erectus (1956) de Charles Mingus.
Sem caír no free jazz (fortemente presente à época) que pessoalmente não aprecio muito por aí além, Mingus apresenta 9 composições muito doces e fáceis de ficar no ouvido.
As últimas três faixas do disco - Jump Monk (em homenagem a Thelonius Monk), Serenade in Blue e Work Song - são faixas que já encontramos no seu disco anterior - Mingus at the Bohemia (1955).

Charles Mingus - Haitian fight song

terça-feira, 28 de outubro de 2008

por ruas parisienses


Já que tanto se falou por aqui do trompetista Donald Byrd enquanto colaborador de Guru na colectânea Jazzmatazz, aproveito para tocar um disco do próprio.

Jazz in Paris (Byrd in Paris) é um dos discos gravado ao vivo em 1958, a par de outros como The Giant ou Donald Byrd Quintet Parisian Thoroughfare. São 5 faixas de longa duração, das quais as minhas preferidas são Paul's Pal e Dear Old Stockholm. Esta última é sueca, de origem popular, mas tem sido reinterpretada por nomes como Miles Davis, Coltrane ou o nosso Donald Byrd. Juntando o útil ao agradável, deixo a música e algumas fotografias de Estocolmo. Velha não sei, mas quando lá estive, em Fevereiro deste ano.










sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Peace, Love, Unity and Having fun 17 NOVEMBRO CASINO LISBOA



Afrika Bambaataa (AB) é o terceiro artista da nossa rubrica sobre o ciclo de concertos que vem trazer o melhor do Hip Hop mundial a Lisboa.

Reconhecido unanimemente como o avô do hip hop, é a ele que se imputa o despontar do Hip Hop enquanto filosofia e estilo de vida. Enquanto cultura própria e com propósitos bem claros. Mas recuemos um pouco no tempo...
Originário de um dos blocks mais férteis em violência (mas também de rappers) de New York City - o Bronx - AB desde cedo se iniciou na vida de street gang que proliferava pelas décadas de 60 e 70 nas maiores cidades dos EUA. É por esta altura que se massifica a imigração de africanos e hispânicos na busca do já quase cliché american dream. Acontece que, como sabemos, essa busca redundou muitas vezes numa exclusão social tremenda cuja expressão mais popular é o Ghetto. Envoltos em vidas familiares altamente desiquilibradas e ignorados por uma sociedade também ela ghettizada (para os ricos, repare-se no fino paradoxo), muitos jovens caíam (e caiem...) na vida do crime: violência, droga, armas e por aí fora. Ora o Bronx desde sempre que foi um dos centros desta marginalidade, a par de outros locais como o Harlem ou Brooklin, por exemplo.

No início dos anos 70, AB fazia parte dos Black Spades, um dos grupos de jovens delinquentes que se passeava no Bronx. A rivalidade e violência entre gangs era uma constante na vida de AB e muitos outros, até ao dia em que AB perde o seu melhor amigo numa rixa. Perturbado pelo acontecimento, AB reflecte sobre o quotidiano que o rodeava e chega a uma conclusão tão simples quanto inteligente: porque não usar tanta força jovem para fazer algo de útil para o bem-estar de cada um e da comunidade? Ainda hoje AB frisa esse espírito aristotélico quando refere que a solução só pode continuar a ser uma: transformar energia mal utilizada em energia positiva, construtiva, comunitária.

Ávido coleccionador de vinys, AB vai fazer do hip hop o meio de expressão das suas ideias para os jovens. E nesta dimensão da música enquanto veículo de transmissão, falar de AB é indissociável de falar em Kool Herc, DJ jamaicano imigrado, que já animava fazia algum tempo as block partys com o seu primitivo soundystem (música muito alta passada em plena rua) onde se faziam ouvir o dub e o reggae, a que mais tarde se juntaram o funk de James Brown, o soul e o gospel. Foi este o primeiro homem a tocar com dois gira discos assim como foi o pioneiro na arte do breakbeat - a repetição de um só trecho rítmico, forte, seco e puro. Como que o beat-base do funk. À técnica (os skills) AB juntou então os seus vinys onde a novidade era o registo electrónico que conhecia por intermédio dos Kraftwerk, que vinham a produzir e a revolucionar desde o início da década de 70. Foi uma mistura explosiva que incendiou os corpos dos que se entregavam à dança com ágeis movimentos de difícil execução: os breaker (de breakbeat) boys (b-boys ou b-girls). Simultaneamente, era usual convidar alguém para ir falando enquanto o dj tocava e os breakers dançavam. Os Master of Cerimony (MC) apresentavam os participantes, anunciavam quem chegava à festa, mandavam bocas aos amigos da assistência e iam animando as hostes com rimas bem humoradas.
A ideia-chave era uma: competir, disputar, rivalizar com arte, engenho e boa disposição. Retirar os jovens da delinquência e reuni-los para se divertirem e celebrarem. Para esquecerem por momentos as agruras do dia a dia.

Mas AB ousou ir mais longe: criou a Zulu Nation, ONG que desde então se bate pela difusão dessa filosofia de vida e que cuja forma de estar se resume pela trilogia presente no título deste texto. Nesse sentido, tem percorrido o mundo dando concertos cujas receitas revertem para solidariedade e combate à exclusão social. Ontem como hoje. Provavemente, como amanhã. No seu website, podemos encontrar os princípios e valores por que se guia, tendo sempre o Hip Hop como meio de comunicação.

Afrika Bambaataa é o autor de algumas malhas que representam a fase mais party people do rap: Planet Rock (mítica), Got That Vibe (com King Kamonzi), Jazy Sensation ou Zulu Nation Throwdown são alguns exemplos. O conceito floresce e surgem novos nomes que ficariam para a história do Hip Hop: Grandmaster Flash (quem não se lembra de The Message?), Sugar Hill, Kurtis Blow (Christmas rap, These are the breaks!!), entre outros.
AB foi também o primeiro artista de rap a trabalhar com o pai do soul James Brown, parceria da qual saíu a faixa Peace, Love, Unity and Having Fun.
Com a década de 80, o Hip Hop fixou as suas 4 vertentes fundamentais: deejaying, mcing, breakdancing e writting (grafitti). Note-se como em todas elas há um enorme apelo ao duelo e ao desafio enquanto formas de comunicação e socialização.
Neste momento, acrescento ao termo Hip Hop a concepção formulada por KRS-One: Hip is the Knowledge, Hop is the Movement. Cultura em movimento, portanto!
Não falar na história do Hip Hop em si ao falarmos de Afrika Bambaataa é tarefa impossível. E por isso mesmo escrever sobre AB implica dedicação e empenho. Todavia, como qualquer trabalho de pesquisa histórica, está sujeito a alguns lapsos e falhas, pelo que serão porventura muitos outros nomes intimamente ligados às raízes do Hip Hop. Pelo que desde já ficam as minhas desculpas por qualquer esquecimento. Como ficam também a minha abertura a possíveis correcções!

Nos dias de hoje, com 51 anos, Afrika Bambataa é um homem cuja vida é transversal a mutações profundas oEUA, não só na música como também na política. Note-se que a segunda metade do séc. XX foi um período agitado para a América, por motivos mais que sabidos. No que à musica diz respeito Afrika Bambaataa testemunhou, como ele próprio refere em algumas entrevistas, movimentos como o rock, o punk, o heavy metal ou os caminhos alternativos que o Hip Hop tomou.

Para terminar, vamos embelezar o SS com alguns dos beats mais clássicos dessa cultura por quem tenho um carinho muito pessoal.
Como já dizia KRS-One, Hip Hop lives!

Afrika Bambataa is in the house:

Planet Rock



Peace, Love, Unity and Having Fun (live)



Peace, Love, Unity and Having Fun (com James Brown)



Looking for the perfect beat



Renegades of the Funk (com The Soul Sonic Force)


Shake Pop 'n' Roll



Afrika Bambaataa MySpace
Zulu Nation website

sábado, 18 de outubro de 2008

Gifted Unlimited Rhymes Universal (GURU) directly from Brooklyn, New York City 3 NOVEMBRO CASINO LISBOA



Keith Edward Elam é a lenda viva do rap americano que vem incendiar Lisboa com o seu flow jazz-rap no dia 2 Novembro, no Casino de Lisboa.

Conhecido no mundo artístico como Guru, está activo desde a década de 90 quando juntamente com DJ Premier fundou os inolvidáveis Gangstarr. Se há muito boa gente que considera a década de 90 como a golden age do rap americano, então a presença dos Gangstarr será um fortíssimo argumento para o explicar. Já em 1989, a dupla lançara No More Mr. Nice Guy, album onde se manifesta o beat acelerado característico da época (influências de nomes com Run DMC ou NWA). Se DJ Premier começa a dar os primeiros sinais de magia nos pratos, Guru apresenta logo o seu cartão de visita: sobriedade, inteligência, maturidade, serenidade. E muita, muita agilidade na arte do spitting on the mic. O discurso de Guru encontra-se esparso em diversas mundividências: a arte e o prazer de rimar (daí as iniciais GURU); o panorama americano do hip hop e o que este significa enquanto modo de vida (a trilogia clássica do Peace, Love & Safely Having Fun); a instrospecção profunda (veja-se a faixa Moment of Truth do album com o mesmo nome, 1998) com descrições depressivas mas com mensagens de optimismo; letras festivas e de celebração do dia-a-dia e da boa vibe; a crítica social e política (nesse sentido, por exemplo, Code of The Streets do disco Hard to Earn, 1994) embora esta temática tenha relativamente menor peso quando comparada com outros grupos da mesma época - lembre-se especialmente os Public Enemy que haviam acabado de incendiar a América com It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back (1988) e Fear of a Black Planet (1990).

1993 é um ano marcante para Guru e para a história do rap americano. Se é verdade que já antes desse ano, boys como Jazzy Jeff, A Tribe Called Quest, Common ou Pete Rock & CL Smooth haviam já dado um cheirinho de jazz aos seus beats, é com Jazzmatazz, Vol. 1 que os tons de Nova Orleans se espraiam assumidamente pela cena rap. Já por aqui falei deste album, pelo que me resta reafirmar a super-qualidade deste disco. É um verdadeiro must-have. Ou um must-listen, se quiserem. Guru no microfone cheio de flow, e uma fauna jazzística a dar-lhe música. Muitos pianos, baixos, guitarras, saxofones e vocals femininos da mais pura sensualidade - N'Dea Davenport dos Brand New Heavies é um exemplo. Referências do mundo jazz? Donald Bird, Roy Ayers ou Ronny Jordan, para citar alguns. Jazzmatazz Vol. 1 é na minha opinião o marco por excelência da era do jazz-rap americano, que tantos prosélitos haveria de encaminhar. Como li na AllMusic.com, Jazzmatazz Vol. 1 is a rap album for jazz fans and a jazz album for rap fans, skillful and smart, clean when it needs to be and gritty when that's more effective, helping to legitimize hip-hop to those who doubted it, and making for an altogether important release.

Entretanto os Gangstarr continuaram a lançar albums (Hard to Earn em 1994) e Guru a produzir jazz-rap. A segunda fornada do seu projecto pessoal sai com Jazzmatazz, Vol. 2: The New Reality (1995), onde Guru reune artistas como Kool Keith (louco!!), Jamiroquai, os repetentes Ronny Jordan e Donald Byrd, Chaka Khan, Kenny Garrett, Bahamadia, entre outros. O registo melódico é o mesmo, embora a a composição e a expressão da rima deixe mais vincado o cariz rap do disco.

Se nos dois primeiros capítulos da saga Jazzmatazz o produtor foi DJ Premier (o mesmo dos Gangstarr), em Jazzmatazz, Vol. 3: Streetsoul (2000) encontramos no estúdio o eterno J Dilla (RIP). Em Jazzmatazz, Vol. 4: The Hip-Hop Jazz Messenger: Back To The Future (2007) o arquitecto é Solar. Em Streetsoul, o declínio do jazz mais tradicional confirma-se, vindo ao de cima o soul e o r&b (o genuíno). Nesse contexto, são ilustres as presenças de Angie Stone, Bilal, Craig David, Erykah Badu, The Roots (!), Macy Gray, Pharrel Williams (a despontar na altura) ou Kelis. Nomes que muitos incluem na vaga do neo-soul americano. Herbie Hancock (!!) e Isaac Hayes representam o lado mais jazzy e funky do disco. Keep your worries (com Angie Stone), Plenty (dueto esplêndido com Erykah Badu) ou Timeless (com Herbie Hancock) são algumas das faixas que exprimem a riqueza eclética deste trabalho.
The Hip-Hop Jazz Messenger: Back To The Future (2007) marca o aparecimento do produtor Solar ao lado de Guru, parceria que se voltará a ver num disco de que ainda falaremos. Ora pode-se dizer que o resultado da parceria foi proveitoso. Solar tem um estilo próprio, não destoando no entanto do espírito da colectânea. Mantem-se a vibe soul/r&b/rap com novos convidados: Common (as minhas vénias), Slum Village, Bobby Valentino, Damian Marley, Raheem DeVaughn ou Blackalicious (grande malha!). O equilíbrio da balança é o mesmo: do jazz temos agora David Sanborn, Ronnie Laws e Bob James. Solar parece-me a mim um corajoso, ao lançar-se ao lado de Guru pela primeira vez num projecto desta dimensão. Diga-se que a coragem é recompensada... o disco começa logo com um som portentoso: Cuz I'm Jazzy solta funk a rodos. E diz Guru: "I'm Jazzy like Dizzy and Bird" em alusão a Dizzy Gillespie e Charlie Parker, já aqui musicados.

E quanto aos Gangstarr? Bem, esses continuam imaculadamentea produzir alguns dos discos mais clássicos da história do hip hop: Moment of Truth (1998), Full Clip: A Decade of Gang Starr (1999), The Ownerz (2003) e Mass Appeal: Best of Gang Starr (2006).

Em 2005 Guru lança então, novamente com Solar no estúdio, Version 7.0 The Street Scriptures. E mal começa a primeira faixa a rodar, as nossas possíveis preocupações se desvanecem. É o velho Guru. Igual a si próprio. Solar confirma as boas indicações deixadas no volume 4 de Jazzmattaz. Arrisco mesmo dizer que não soubéssemos da história até diríamos que Solar e Guru já tocam há muito tempo juntos. Melhores bats deste belo disco: No Time, False Prophets, Step in the Arena 2 (I'm sayin), Surviving tha game, Hall of Fame, Kingpin, Fa Keeps, Feed the hungry e What's my life like. Preferidas: Hall of Fame, Feed the hungry e What's my life like.

Como já foi referido no post sobre Premier, hoje são muitos os pontos de interrogação quanto à carreira dos Gangstarr. Sem discos de originais desde 2003, ambos têm continuado a produzir e a dar espectáculos mas por caminhos separados. Não confirmam zangas nêm anunciam regressos. Marketing ou factualidade? Não saberemos por enquanto.

Enquanto Master of Cerimony, Guru detém um estatuto que poucos tiveram ou têm no presente. No passado, talvez só Notorious BIG e Tupac Shakur, e estes por motivos também além-música. No presente, o lendário Afrikaa Bambaataa, KRS-One, Rakim, CL Smooth, Q-Tip (A Tribe Called Quest), Chuck D (Public Enemy) e Black Thought (The Roots) serão dos poucos que se elevam ao seu patamar no ambience da comunidade oldschool. É que Guru transpira classe. Estilo. Serenidade. Maturidade. É um senhor do mic. Daí também os numerosos trabalhos para os quais é requisitado o seu contributo.
Que maior elogio se podia aqui fazer a Guru do que dizer que este blog deve o seu nome ao seu último album? I'm down on my knees.

Sometimes you gotta dig deep, when problems come near
Don't fear things get severe for everybody everywhere
Why do bad things happen, to good people?
Seems that life is just a constant war between good and evil
The situation that I'm facin, is mad amazin
To think such problems can arise from minor confrontations
Now I'm contemplatin in my bedroom pacin
Dark clouds over my head, my heart's racin
Suicide? nah, I'm not a foolish guy
Don't even feel like drinking, or even gettin high
Cause all that's gonna do really, is accelerate
The anxieties that I wish I could alleviate
But wait, I've been through a whole lot of other shit, before
So I oughta be able, to withstand some more
But I'm sweatin though, my eyes are turnin red and yo
I'm ready to lose my mind but instead I use my mind
I put down the knife, and take the bullets out my nine
My only crime, was that I'm too damn kind
And now some skanless motherf**kers wanna take what's mine
But they can't take the respect, that I've earned in my lifetime
And you know they'll never stop the furious force of my rhymes
So like they say, every dog has it's day
And like they say, God works in a mysterious way
So I pray, remembering the days of my youth
As I prepare to meet my moment of truth


Moment of Truth (Gangstarr Moment of Truth, 1998)

Guru - Loungin' com Donald Byrd (Jazzmatazz Vol. 1)



Guru MySpace
Gangstarr MySpace

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"A man of few words" 27 OUTUBRO CASINO LISBOA - "WE DROP BOMBS TOO!"*



No seguimento do texto anterior, e prestando tributo aos nomes que aí vêm encher Lisboa de rythm and poetry, inicio aqui uma rúbrica com crónicas dedicadas a cada um dos artistas. Assim sendo, hoje começamos por DJ PREMIER.

DJ PREMIER é um produtor e dj americano de hip hop. Um dos melhores de sempre, para mim. Um dos melhores na actualidade. Este aparente silogismo não o é, de facto. Porque é difícil ostentar esses dois títulos.
A solo, com os Gangstarr (fazendo dupla com Guru), ou produzindo para outros grandes artistas, DJ PREMIER deixou e continua a deixar uma marca muito própria no panorama do rap e jazz-rap americano, com naturais repercussões na cena europeia.
Primo, como é conhecido, é um verdadeiro autodidacta; um rato não da biblioteca mas de estúdio e das lojas de vinys. A produzir desde a década de 90 (para muitos a golden age do hip hop, a meias com a segunda metada da década de 80), Premier faz da música plasticina: toca-lhe, amassa-a, alisa-a, volta a amassar, compacta, desfaz, volta a juntar... enfim, brinca. Nesse tempo recreativo, aproveita várias cores e formas: hip hop, soul, funk, scratch, samples... Aos que clamam por instrumentos, Premier responde-lhes com vinys, samples, pratos e mpcs. É que fazer muito (tanto!) com pouco também é um estilo... e uma virtude.
Quanto ao seu método de composição enquanto produtor, este texto que encontrei na wikipédia descreve-o de forma cristalina:
Premier's signature style is, essentially, a two-bar break to make up the rhythms of his tracks, and a scratched chorus. (...) Premier usually creates a one or two-bar melody that repeats itself throughout the song, usually using a combination of orchestral and ambient samples. This template of simple repetition leaves plenty of room for the MC to spread out.
He has also shown innovation by playing unusual elements into rap songs (such as the bicycle bells in Group Home's "Supa Star" or the ambient nature sounds on Nas' "Nas Is Like"), and his wide range of instruments (the piano loop on Jay-Z's "D'Evils" and the strings on Rakim's "New York (Ya Out There?").

É incrível o rol de nomes que já recorreram aos seus dotes de mago. Só para nos apercebermos da dimensão do que tento expressar: Lord Finesse, Ice-T, Mobb Deep, KRS-One, Big Daddy Kane, M.O.P., Group Home, Bahamadia, Jeru the Damaja, Nas, Rakim, Notorious B.I.G., Mos Def, Afu-Ra, Big L, Dilated People, J-Live, Non Phixion, Snoop Dogg, Xzibit, Kool G Rap, .... E não saíamos daqui. E entretanto já terá dito o leitor: ei, mas isso é toda a velha guarda do hip hop! Pois, pois. E se agora eu disser que também já produziu para artistas tão diversos como a pop Janet Jackson ou o soulman D'Angelo? Pois!
Actualmente, Primo detém duas labels: a Year-Round Records e a HeadQcourterz Studios.

Como artista, e fora da dimensão musical estrita, Premier carrega consigo uma aura quase messiânica. Não é no entanto um one man show. Talvez porque é no background que estão os seus brinquedos favoritos: os pratos. Quanto ao tão desejado regresso dos Gangstarr, a resposta continua a ser a mesma: um desesperante nim. Enquanto isso, podemos ir escutando as suas colaborações e o album que aí vem: A Man of Few Words (no título deste texto).

É-me difícil escolher um clip ou um som de Premier. Tão difícil é, que não vou deixar um mas vários. Deliciem-se! Antes disso, deixo uma entrevista com o próprio:

DJ PREMIER interview



DJ PREMIER featuring Nas, Rakim, Kanye West & KRS-One - Classic



Gangstarr - Full Clip



Gangstarr - Mass Appeal



Gangstarr - Code of The Streets



Group Home - Supa Star



Group Home featuring Guru - The Legacy



Nas - Nas is Like



DJ Premier MySpace

*frase retirada da entrevista a Premier.

DJ Premier MySpace
Gangstarr MySpace